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Coletes são alvo de críticas dos policiais

Equipamento não resiste a O coronel nega a inadequação dos coletes, mas a PM admitiu na terça que fuzis da UPP atacada não puderam ser usados contra os bandidos porque "engasgaram".

GUSTAVO GOULART 

RIO - A ineficácia do colete usado pela soldado Fabiana Aparecida de Souza, de 31 anos, para a proteger de tiros de fuzil custou a vida da policial. A bala disparada por um dos bandidos que atacaram a UPP da Nova Brasília, no Complexo do Alemão, atingiu-a mortalmente no peito. O equipamento usado por Fabiana é de nível III-A, que resiste a tiros de todos os calibres de pistola, mas não suporta disparos de fuzis. Segundo o comandante-geral de Polícia Pacificadora, coronel Rogério Seabra, esse tipo de colete é padrão nas atividades dos policiais envolvidos na pacificação.
Na terça-feira, policiais daquela UPP afirmaram não contar com equipamentos adequados para enfrentar confrontos como o que ocorreu na noite de segunda-feira. A tropa reclama que não há fuzis para todos os policiais. Eles dizem ainda que a sede da Nova Brasília, toda envidraçada, é vulnerável porque não é blindada e fica no alto do morro, numa área descampada. O coronel Seabra rebateu as críticas:
— O colete usado por Fabiana e por todos os policiais das UPPs é o adequado para esse tipo de policiamento. Coletes capazes de segurar balas de fuzil são para uso apenas de forças táticas da polícia. A atividade da polícia pacificadora é muito mais ampla do que reagir a tiros de fuzil.
O coronel nega a inadequação dos coletes, mas a PM admitiu na terça que fuzis da UPP atacada não puderam ser usados contra os bandidos porque “engasgaram”. Em nota, a PM diz que “a falha de alguns fuzis foi constatada pelo comandante da UPP (capitão Márcio Rodrigues), que verificou que os policiais não fizeram o procedimento adequado de limpeza da arma antes de usá-las”. Segundo a nota, houve falha no manuseio.
Inaugurada no dia 18 de abril, a UPP da Nova Brasília receberá pela primeira vez em setembro as gratificações de R$ 500 a serem pagas aos policiais. Na segunda-feira, dia da morte de Fabiana, o governo do estado encaminhou à Secretaria da Casa Civil da prefeitura o requerimento para que as gratificações em atraso possam ser pagas. Ontem, a secretaria fez o depósito das gratificações, que só serão incluídas nos contracheques de agosto.
 
Retrato da insatisfação
 
A insatisfação de policiais com as condições de trabalho nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão também apareceu numa pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Candido Mendes divulgada este mês. Realizado com 885 policiais de 20 UPPs, o estudo foi coordenado pelas pesquisadoras Bárbara Soares, Julita Lemgruber e Leonarda Musumeci.
Segundo a pesquisa, apenas dois itens relativos a condições de trabalho listados no questionário foram avaliados como bons pela maioria dos policiais: escala de trabalho (52%) e relacionamento com policiais de batalhões (64%). Em todos os outros, a avaliação “bom” foi francamente minoritária: salário (6%), pontualidade da gratificação (6,3%), auxílio para transporte (1,5%) e para alimentação (12,3%).
Também foram ruins as avaliações para assistência psicológica — apenas 14,6% a consideram boa —, assim como para a assistência médica (19,3%), local para refeições (22%), dormitórios (7,4%) e sanitários (22,2%). Na pesquisa,quando o policial foi perguntado sobre a pior coisa do trabalho na UPP, as respostas mais frequentes foram as condições de trabalho (40,6%) e a relação negativa com a comunidade (34,1%). Apesar de tudo, 46,2% dos policiais entrevistados se sentem satisfeitos por trabalharem em UPPs.
Julita Lemgruber e Leonarda Musumeci explicaram que, em relação a outra pesquisa feita em 2010, aumentou a presença de mulheres no conjunto da tropa das UPPs. O percentual passou de 0,8% para 11%. Também cresceu o número de policiais com curso superior completo ou incompleto, passando de 37% para 47%.
Para os policiais, piorou a preparação que recebem para atuarem nas UPPs: em 2010, 63% deles se consideravam adequadamente preparados para trabalhar numa UPP, enquanto em 2012 o percentual caiu para 49%. Eles se consideraram pior instruídos em mediação de conflitos, prática de policiamento em favelas, atuação em caso de violência doméstica e uso de armamento menos letal. Segundo o trabalho do Cesec, aumentou ainda de 24% para 43% o percentual de policiais que percebem o tráfico como ocorrência muito frequente.
 
 

 



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