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Estudo revela que 97% das policiais lotadas em UPPs estão sob risco de ter doença cardiovascular

Situações de alto estresse, como a vivida na última sexta-feira por cinco policiais da UPP do Morro do Fallet, em Santa Teresa, onde tiveram as armas tomadas por traficantes, fizeram a soldado Suelen, de 31 anos, lotada há um ano e dez meses na UPP Santa Marta, em Botafogo, procurar um médico com queixas de palpitações.

 Ela acredita que a tensão enfrentada na rotina de trabalho na favela da Zona Sul carioca pode ter influência no desconforto no peito que sentiu por cerca de dois meses no ano passado. A policial faz parte de um índice alarmante: 97% das mulheres soldados que atuam em UPPs apresentam fatores de risco de doença cardiovascular. O dado foi levantado por uma pesquisa realizada em 2013 com 602 policiais de 32 unidades pacificadoras do Rio e apresentado no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, no último dia 6.
— Já passei por momentos complicados no Alemão, no Pavão-Pavãozinho e na Rocinha, quando fomos chamados para dar apoio. No início, eu não dormia e, ainda hoje, às vezes, acordo sobressaltada à noite. Até porque moro em local de risco e escuto tiroteio quando chego em casa — relata a soldado Suelen.
O nível de estresse foi um dos tópicos avaliados no questionário de 30 perguntas aplicado nas policiais pela cardiologista e major da Polícia Militar Ivana Picone Borges e pela enfermeira e capitã da PM Vanessa Marcolla. As questões abordaram ainda tabagismo, pressão alta, colesterol, sedentarismo e obesidade.
Uma resposta positiva ou desconhecimento valia um ponto. O estudo considerou que integram o grupo de alto risco as mulheres com duas ou mais respostas positivas ou desconhecimento. A média de pontos na pesquisa foi de 4,8.
— O desconhecimento é maior que a presença do fator de risco. Mas a falta de informação também é um fator de risco porque impacta no desenvolvimento de doença futura, já que não houve prevenção — explica Ivana.
A médica ressalta que os sintomas de problemas coronarianos podem ser diferentes em mulheres quando comparados aos homens, sendo subdiagnosticados e subtratados.
— O resultado do estudo mostra que essa população precisa ser alertada para procurar uma avaliação médica e exames — conclui Ivana.
 
Adrenalina que mata
 
A doença cardiovascular e o acidente vascular cerebral (derrame) são a principal causa de morte de mulheres no mundo. São 8,6 milhões de óbitos por ano.
— As mulheres morrem mais do que os homens por doenças cardiovasculares porque elas não valorizam os sintomas e não fazem prevenção. Mesmo num pronto-socorro, as mulheres não têm os sintomas valorizados, até porque eles não costumam ser clássicos como acontece com os homens. A mulher pode não apresentar dor, por exemplo — diz Ivana, que ministrou palestras nas UPPs para esclarecer as policiais.
A cardiologista explica que a doença cardiovascular está muito ligada ao estresse crônico pela liberação de catecolaminas, como a adrenalina:
— Isso leva à obstrução dos vasos sanguíneos.
Aos 22 anos, a soldado X, que pediu anonimato, está lotada na UPP Santa Marta há um ano e dez meses. Antes, ela estagiava no Batalhão da Polícia Militar da área de Botafogo e fazia patrulhamento na rua:
— Era menos estressante porque um colega mais experiente orientava como agir nas situações. Na UPP, você aprende a caminhar com as próprias pernas. Aqui, não dá para relaxar. E como moro em local de risco, também é difícil desligar dessa rotina quando estou de folga — diz ela, que não faz atividade física e nunca foi ao cardiologista.
Já a soldado Daiana, de 34 anos, conta que largou um emprego de secretária para entrar para a Polícia Militar.
— Já trabalhei três meses na UPP da Vila Kennedy e, há um ano, estou na UPP Santa Marta. Procuro amenizar o alto nível de estresse estando com a minha família nos momentos de folga. Tento desligar dessa rotina de violência e nem filme de ação eu assisto na TV. No ano passado, procurei um cardiologista para fazer uns exames, porque tenho caso de doença coronariana na família. Mas, por falta de tempo, desde janeiro, não tenho feito exercícios.
 



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